Renan Mattos
Dois terços dos municípios do Estado não têm 10 mil habitantes, o que faz com que migrem para onde há atendimento em saúde. Os hospitais das pequenas cidades pouco resolvem e funcionam quase como “leitos de passagem”, sem estrutura adequada.
MICROPÓLOS
Santiago, um dos municípios da região, tem uma peculiaridade. Com cerca de 50 mil habitantes, tanto é um micropolo em saúde para pequenas cidades, quanto também necessita enviar os próprios pacientes para centros de referência. A maioria das vezes, o endereço é Santa Maria.
– Na nossa região, a oferta de média e alta complexidade e de especialidades é ofertada pelo Estado, por isso, nosso problema é termos uma oferta abaixo da nossa demanda. Geralmente, para esses atendimentos, acessamos principalmente Santa Maria. Todos os dias, saem daqui dois micro-ônibus com 32 lugares. Já o Grupo Hospitalar de Santiago (GHS) oferece outros serviços que dependem da contratação estadual. Ainda temos convênio de um pronto-socorro e possuímos plena gestão de exames clínicos e citopatológicos, que cobrem outros municípios – explica o secretário de Saúde de Santiago, Éldrio Machado.
DEMANDAS
Agilizar cirurgias eletivas, fortalecer serviços de saúde mental e voltados a idosos e população de rua são necessidades constantes e unânimes na região. Prefeitos e gestores em saúde ouvidos na reportagem e representações como a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e a Associação dos Municípios da Região Central do Estado (AM Centro) apontam diversas demandas em comum (veja ao lado). Assim como Santiago, o maior desafio dos municípios tem sido desafogar as cirurgias eletivas, assim como consultas e exames especializados que amargam a demora na fila de regulação e deparam com serviços reprimidos. O repasse de recursos aos pequenos hospitais e disponibilização de mais leitos, sobretudo no Hospital Regional também são necessidades apontadas pelos prefeitos.
Já ao Ministério Público e à Defensoria Pública, o que tem aumentado em Santa Maria e cidades vizinhas são questões voltadas para a saúde mental, pedidos de internações compulsórias e atendimento à população de rua. Nos últimos dois anos, a busca por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) também se intensificou. Ainda recorrem ao Judiciário constantemente, pedidos por medicamentos, exames e consultas de áreas especializadas como neuropediatria e traumatologia.
– Com o aumento da população idosa e, consequentemente, de doenças crônicas e degenerativas também urge se investir no incremento de serviços de reabilitação e apoio ao autocuidado, inclusive com a remodelação e readequação de hospitais de pequeno porte para essa prioridade de cuidado. O RS possui uma péssima cobertura de assistência geriátrica e se torna urgente o investimento na especialização de equipes para aumentar a cobertura regional – salienta o médico sanitarista e professor associado da UFRGS, Alcides da Silva Miranda.
As principais necessidades nos municípios da região
Abertura integral de leitos e atendimentos no Hospital Regional;Ampliação de recursos para hospitais filantrópicos e hospitais de pequeno porte;Aumento de vagas para consultas eletivas em diversas especialidades;Redução da fila de espera para exames, procedimentos e cirurgias
Conforme AM-Centro e Famurs
População inferior a 10 mil habitantes
24 dos 39 municípios da região de cobertura do Diário têm menos de 10 mil habitantes. O menor município da região é Ivorá, com 2.116 habitantes. A maioria precisa encaminhar pacientes para atendimento em cidades maiores e mais equipadas em saúde
Dilermando de AguiarDona FranciscaFaxinal do SoturnoFormigueiroItaaraItacurubiIvoráJariLavras do SulMataNova Esperança do SulNova PalmaParaíso do SulPinhal GrandeQuevedosSanta Margarida do SulSantana da Boa VistaSão João do PolêsineSão Martinho da SerraSão Vicente do SulSilveira MartinsToropiUnistaldaVila Nova do Sul
Os 14 municípios sem hospital
1 Dilermando de Aguiar
2 Dona Francisca3 Itaara4 Itacurubi5 Silveira Martins6 Jari7 Nova Esperança do Sul8 Quevedos9 Santa Margarida do Sul10 Santana da Boa Vista11 São Martinho da Serra12 Toropi13 Unistalda14 Vila Nova do Sul
O Ministério da Saúde estabelece que as cidades devem ter de 2,5 a 3 leitos pelo SUS para cada 1 mil habitantes
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) – com recomendação antes da pandemia do coronavírus – era para que todos os países tivessem de um a três leitos disponíveis em unidades de terapia intensiva (UTI) para cada 10 mil habitantes. A realidade é que apenas 10% das cidades brasileiras se enquadram nessa orientação ao oferecer ao menos um leito de UTI dentro do Sistema Único de Saúde para essa quantidade populacionalOutro estudo divulgado em 2020 e em relação aos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é bastante semelhante. Conforme a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, onde constam os dados de todas as unidades de saúde públicas e privadas da federação aponta que dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 536 (9,6%) tinham leitos de UTI. São 48 milhões (22,7% da população) de brasileiros que vive em locais em que não há sequer um leito de UTI
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